domingo, 24 de maio de 2015

1º Vencedor do GP de Mônaco, um herói da resistência

Curiosidades em Guerra


XIX - 1º Vencedor do GP de Mônaco
     Um herói da resistência


O primeiro vencedor do GP de Mônaco foi morto pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

William Charles Frederick Grover, conhecido como William Grover-Williams nasceu em Montrouge, na França. filho de pai inglês e mãe francesa.  Depois do término da Primeira Guerra Mundial,  a família mudou-se para Mônaco, local em que desenvolveu sua paixão por automóveis. Aos 15 anos obteve licença para dirigir e comprou uma motocicleta Indian, com a qual passou a disputar corridas locais, sem, contudo, revelar tal fato a seus pais. Adotou o pseudônimo W Williams para continuar a correr de forma anônima. 

Williams Grover-Williams no Bugatti #12 em Mônaco, 1929
 (Foto: Goodwood)


Ainda com o pseudônimo W Williams, disputou o Grand Prix de Provence e o Rali de Monte Carlo. Em 1928, obteve sua primeira vitória importante, no Grande Prêmio da França. O ano seguinte veria um sucesso ainda maior, ao volante de uma Bugatti, Grover-Williams repetiu a vitória no Grande Prêmio da França e venceu a primeira edição do Grande Prêmio de Mônaco, batendo a favorita equipe da Mercedes-Benz do campeão alemão, Rudolf Caracciola. 

Venceu, ainda, o Grande Prêmio da Bélgica  de 1931, e o Grand Prix de la Baule - onde os carros atolavam na areia - por três vezes seguidas, em 1931, 1932 e 1933. Obteve, ainda, o sexto lugar no Grande Prêmio da França de 1932.


1º GP de Mônaco, em 1929



Ele foi o único piloto de nacionalidade inglesa a entrar no primeiro GP de Mônaco, em 14 de abril de 1929. Completou as 100 voltas do antigo traçado, que seguiria sendo usado até 1972, em 3h56min. E pronto. A corrida mais lendária da F1 tinha sido criada, e o rapaz que corria com nome cheio de truques para enganar a mãe era o primeiro vencedor.

Em 1933, Williams concluiu que sua carreira de piloto havia chegado ao final. E assim fez, partindo no auge para uma vida mais pacata ao lado da esposa. Os dois foram figuras constantes nas colunas sociais da época durante a carreira do piloto, mas queriam uma vida mais calma.

Grover-Williams em Nürburgring, 1931

A vida pacata de Williams durou alguns anos e foi pouco interrompida no período. Já rico, aumentava a renda ao ensinar donos de Bugatti como manusear suas máquinas.

Mas veio um elemento impossível de ser contabilizado: a guerra. E Williams assumiu um papel longe de convencional. De piloto reconhecido para líder de resistência condecorado.  

Willy, como era chamado pelos amigos, se alistou nas Forças Armadas Britânicas. Seu francês fluente o fez um alvo fácil para fazer parte da resistência francesa. Por quase dois anos, Williams foi treinado pelo SOE (Executiva de Operações Oficiais). Ao fim de maio de 1942, foi enfim mandado para Paris, talvez o lugar mais perigoso para um combatente aliado naquele ponto da guerra. A nova rede de resistência, a Chestnut Network, deveria substituir a antiga, destroçada pela Gestapo.

O monumento em homenagem ao primeiro vencedor 
do GP local em Mônaco (Foto: Reprodução)


Sob os codinomes de 'Vladimir' e depois 'Sébastien', Williams começou a recrutar pessoas para a resistência parisiense. Juntamente com os franceses Robert Benoist e Jean-Pierre Wimille, também pilotos de automobilismo antes da guerra e integrantes das networks da SOE, passaram a trabalhar na elaboração de células de sabotagem e no desenvolvimento de operações de paraquedistas voltadas aos preparativos do Dia D.

A nova rede de resistência deveria ter recebido agentes britânicos logo, o que não aconteceu. E começaram a recrutar, treinar e armar um exército de resistência formado por locais.

Esses membros da Resistência cometeram diversos atos de sabotagem, incluindo vários na fábrica da Citroën. Mas uma traição acabou levando a Gestapo à casa de Benoist, onde os líderes do grupo acabaram capturados em agosto de 1943. Enquanto Benoist conseguiu escapar e voltar para casa, Williams não teve a mesma sorte. Ele foi torturado em interrogatório e mandado para o campo de concentração de Sachsenhausen. Lá ele ficou por quase dois anos, até ser assassinado em 23 de fevereiro de 1945, poucos meses antes do fim da guerra. 

"Monaco 1929"


Na últimas décadas surgiram versões que tentam levar a crer que que ele sobreviveu à guerra mas nenhuma, até então, foi comprovada. 



O jornalista Joe Saward que cobre a F1 lançou há alguns anos o livro  The Grand Prix Saboteursque conta a história dos tres pilotos.